domingo, 13 de outubro de 2013

Uma em cada quatro línguas indígenas do Brasil corre risco de desaparecer.

Enquanto o português se expande, outros idiomas estão seriamente ameaçados de extinção no Brasil. Pelo menos um quarto das mais de 150 línguas indígenas do país corre o risco de desaparecer, segundo um estudo divulgado esse ano pelo Museu Paraense Emilio Goeldi.

Outro projeto de pesquisa, o Atlas das Línguas Ameaçadas da Unesco, classifica, no Brasil, 97 línguas indígenas como vulneráveis, 17 em perigo, 19 seriamente em perigo e 45 em extremo perigo. Os kanoê são um exemplo desta última situação: são apenas três falantes e estão na terra indígena Omere, em Corumbiara (PA). Em outros casos, como o dos xipaia, o grupo é maior, mas somente dois idosos são fluentes na língua. O restante foi alfabetizado em português.
Nacionalismo
Das 6.500 línguas do mundo, calcula-se que metade estará extinta no final do século. “Temos um processo positivo em curso, de crescimento de muitas línguas, como o mandarim, o português, o russo, e temos também um decréscimo de muitas línguas. A estrutura continua sendo desigual”, aponta Gilvan Muller de Oliveira, diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa.
“As línguas realmente minorizadas, as línguas indígenas ou de minorias de países, continuam no mesmo grau de ameaça que na estrutura anterior dos Estados-nação. Temos hoje a extinção de uma língua a cada dois meses”, completa Oliveira.
Durante o século XX, segundo o professor, prevaleceu o pensamento de que cada Estado-nação deveria ter uma só língua, mesmo que isso significasse enfiar o idioma nacional goela abaixo dos seus cidadãos. Inspirado no modelo francês, que reprimiu a pluralidade linguística em seu território, o Brasil teve muitas línguas que foram perseguidas, e não apenas as indígenas.
“O momento mais específico dessa repressão ocorreu no Estado Novo de Getúlio Vargas, num movimento político que se chamou Processo de Nacionalização do Ensino, quando as escolas em outras línguas foram fechadas, os materiais didáticos proibidos e os professores, despedidos”.
“O Brasil reprimiu e conseguiu, com sucesso, eliminar grande parte dos falantes de alemão, italiano, japonês, árabe, russo, polonês, ucraniano. Mesmo o espanhol, que foi corrente no Rio Grande do Sul no final do século XIX e começo do século XX, foi eliminado. E agora precisamos investir de novo na diversidade linguística para catapultar o país para um novo patamar de inserção internacional”, comenta. Para ele, a dificuldades em encontrar pessoas fluentes em outras línguas prejudica, por exemplo, o programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal.

Além disso, Unesco também classifica 97 línguas indígenas como vulneráveis e 45 em situação de extremo perigo

Fonte: Opera Mundi

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Índios x PEC 215 - Arquivamento ou Tramitação ?



PEC 215/200

“Meu governo é contra a PEC 215, que retira da União direito de demarcar as terras indígenas. Orientei a base do governo a votar contra.” Este foi o recado, muito bem dado, pela presidenta Dilma Rousseff em seu twitter nesta 3ª feira (ontem).

Ativistas do meio ambiente e centenas de índios acamparam diante da Esplanada dos Ministérios para protestar contra a PEC 215 e a instalação da comissão especial que pretende analisá-la. Felizmente, o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN) afirmou que a comissão só será instalada após haver “ampla negociação entre os setores envolvidos”.

De autoria do ex-deputado Almir Sá (PP-RR) e apoiada pela Frente da Agropecuária no Congresso, a PEC 215 visa a transferir o poder de demarcar terras indígenas da União para o Legislativo. Além disso, permite a revisão das terras já demarcadas e a criação de novos critérios e procedimentos para a demarcação destas áreas que passariam a ser regulamentadas por lei e não por decreto.

Hoje a decisão sobre as demarcações cabe à Fundação Nacional do Índio (FUNAI), ao Ministério da Justiça e à Presidência da República. Em entrevista para a Agência Brasil, o deputado Padre Ton (PT-RO), presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas, afirmou que 98,5% das terras indígenas já estão demarcadas e garantiu que “falta pouco para a conclusão deste processo”.

Após a reunião, o deputado Lincoln Portela (PR-MG), que preside a Comissão de Legislação Participativa da Câmara, falou sobre o futuro da PEC. "Na minha avaliação, a PEC 215 está sepultada de vez", declarou. " o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves [PMDB-RN], me disse que a PEC está suspensa e, depois da reunião de hoje, acredito que não há clima para que a proposta vá adiante", completou.
Portela falou a um grupo de índios que aguardavam em frente ao Congresso Nacional o resultado da reunião. "Hoje foi um passo muito grande para o Brasil", ressaltou Portela. Ontem, Henrique Eduardo Alves resolveu adiar a instalação da comissão especial que vai analisar a PEC 215. Em nota, o presidente da Câmara disse que a instalação só ocorrerá depois de uma “ampla negociação entre os setores envolvidos”. A reunião de instalação inicialmente marcada para o dia 18 foi adiada a fim de ter mais tempo para debater a proposta.


Hoje, os índios fizeram diversas manifestações no Brasil afora, aqui em imperatriz não foi diferente. Na Praça de Fátima houve uma grande manifestação das etnias maranhenses, protestos que fazem parte da Mobilização Nacional Indígena, em defesa da Constituição Federal e dos direitos dos povos indígenas que ocorre em todo o país desde segunda-feira (30). 



Fonte:UOL,Zé Dirceu e Exame Abril
Fotos:Elson Araújo,Exame Abril,UOL e Manchete Atual

terça-feira, 1 de outubro de 2013

“É hora de ir para cima, para o embate”

Sonia Guajajara
Sônia Guajajara

Sônia Guajajara é hoje a porta-voz do movimento indígena brasileiro. Recém nomeada Coordenadora Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ela convoca os índios e toda a sociedade brasileira para uma mobilização nacional em defesa dos direitos indígenas conquistados há exatamente 25 anos com a Constituição Federal.
Nascida em 1974, em uma aldeia do povo Guajajara, na região de floresta do Maranhão, Soninha, como é apelidada, esteve por cinco anos como vice-coordenadora da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab). Hoje, como uma das mais combativas lideranças indígenas do país, passa a maior parte do seu tempo em Brasília, enfrentando cara a cara os seus adversários da bancada ruralista do Congresso Nacional.
Para Sonia existem três fases do movimento indígena no Brasil: “A gente teve o momento pré-constituinte, onde as lideranças lutaram pra garantir os direitos indígenas. Depois, teve o momento de lutarmos pelo cumprimento dos direitos adquiridos. E agora, estamos lutando para não perder esses direitos”.
Projetos de leis e emendas à Constituição que tramitam no Congresso ameaçam, sobretudo, os seus direitos territoriais. Uma ofensiva promovida por deputados ligados ao agronegócio, por meio das Propostas de Emendas Constitucionais números 038/99 e 215/00, que propõem transferir a atribuição da demarcação do Executivo para o Legislativo, e a 237/13, que permite o arrendamento das terras indígenas para grandes produtores rurais. Também defendem o Projeto de Lei 1610/96, que permite a mineração em territórios demarcados, e do Projeto de Lei Complementar 227/12, que legaliza latifúndios e assentamentos dentro das terras indígenas.
O movimento indígena também se diz pronto para se defender dos ataques do Executivo, com as Portarias 419/11 e 303/12, que pretendem estender a todo o Brasil as condicionantes definidas para a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, e o Decreto 7957/2013, que regulamenta a atuação da Força Nacional a prestar auxílio à realização de estudos sobre impactos socioambientais. “O governo Dilma foi o que menos homologou terra desde a promulgação da Carta Magna em 1988”.
Hoje, o foco de combate dos índios é contra a PEC 215. A bancada ruralista prometeu instaurar na próxima semana a Comissão Especial que irá discutir a proposta que acaba de vez com as demarcações de terras indígenas no Brasil.

A mobilização acontece de 30 de setembro a 5 de outubro com programação agendada em todo país. Em Brasília, são esperadas mais de mil lideranças indígenas de todo país que estarão acampadas em frente ao Congresso Nacional para o ato público na terça-feira 1º: “Como dizem nossos parentes, o momento é de guerra. A gente tem que ir para cima mesmo. Eles estão vindo com muita força”.

CartaCapital: Como se iniciou a luta pelos direitos indígenas no Brasil?
Sônia Guajajara: O território era a principal bandeira, foi o que motivou a luta pela Constituição Federal, em 1988, quando as lideranças participaram ativamente para garantir os nossos direitos. Conquistamos dois capítulos pequenos, mas bem importantes, porque dão a nossa garantia territorial. Logo depois, foi se configurando a criação das organizações indígenas no Brasil. Foi quando surgiu a Coiab, em 1989, no momento pós-constituinte, e outras organizações. O movimento indígena foi se organizando para lutar pelo cumprimento do direito adquirido.
CC: Muitas terras indígenas foram demarcadas nessa época?
SG: Por muito tempo a gente lutou pela questão do cumprimento e aí se avançou na demarcação das terras, principalmente na Amazônia. No resto do Brasil, não muito. Povos que vivem no Mato Grosso do Sul e em estados do Sul e Nordeste até hoje não conseguiram demarcar suas terras que foram dadas pelo próprio governo dos estados aos fazendeiros de forma ilegal. Então o movimento indígena trabalhou muito nesse momento. Depois que se avançou na demarcação das terras na Amazônia, a gente começou a luta pela sustentabilidade. Não bastava a terra garantida, tinha que se fazer a gestão, manter a terra protegida, sem invasões. A gente lutava por proteção territorial, saúde e educação. Alguns direitos foram conquistados. A educação indígena virou política pública, a saúde também. Ainda há muita coisa errada, mas são direitos conquistados pelo movimento indígena, que começou a ter mais incidência nos espaços de decisão dos governos.
CC: E esses direitos conquistados estão ameaçados hoje?
SG: O Congresso Nacional está vindo com toda a força para cima das terras indígenas. Qual é o interesse nisso? Tomar as nossas terras e utilizá-las para o aumento da produção e da economia do país. O que está conectado com o interesse do Executivo, pois faz parte do plano de crescimento do Brasil. O Executivo e o Congresso Nacional estão aliados para atender aos interesses do agronegócio e dos grandes empresários. Esse é o nosso maior enfrentamento dentro do Congresso Nacional hoje.
CC: Projetes de Leis e Emendas Constitucionais propõem mudanças nos processos de demarcação de terras indígenas. O que está em jogo?
SG: A gente tem uma demanda de demarcação ainda muito grande no Brasil e não vemos interesse do Governo Federal em avançar nisso. O que a gente vê é o retrocesso. Meses atrás a ministra Gleisi Hoffmann [Casa Civil] suspendeu os estudos de identificação no Sul do país. Há interesse de se travar os processos de demarcação por conta dos interesses pessoais dos deputados latifundiários que têm grandes extensões de terras. Projetos como a PEC 215, a PEC 38, o PLP 227, não só dificultam a demarcação, como tentam rever terras já demarcadas. Também existem casos de áreas demarcadas, mas muito pequenas, e determinados povos tentam a sua ampliação há anos. Com essas medidas, não se poderá mais ampliar a terra indígena no Brasil.
CC: O que movimento indígena fez até agora para impedir a PEC 215?
SG: Em abril, ocupamos o plenário da Câmara e conseguimos impedir a instalação da comissão especial que vai dar o parecer sobre a PEC. Também conseguimos instalar um GT paritário entre indígenas e parlamentares para se discutir a questão. De abril até agora, setembro, o GT fez várias reuniões e audiências públicas com a participação de juristas importantes. A conclusão foi que a PEC 215 é inconstitucional, portanto, inviável, porque sugere sobreposição de poderes. A Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos dos Indígenas entrou com uma petição colocando todos os pontos da inconstitucionalidade. Mas mesmo com o resultado do GT, o presidente da Câmara criou a Comissão Especial que vai analisar a proposta, e sem a participação do PT, que se negou a indicar seus membros por ser contra a proposta. A instalação está programada para a semana da mobilização e a gente vai achar ótimo (risos).
CC: O Executivo se diz contra a PEC 215?
SG: O Executivo não concorda que tire esse poder dele e passe para o Legislativo. Inclusive, a presidente Dilma, na reunião com o movimento indígena em julho deste ano, afirmou que é veementemente contra. Foi essa a palavra que ela usou. A Dilma disse que está junto com o movimento indígena para não aprovar essa PEC. A gente acha que ela chamou a base do PT na Câmara para fazer essa incidência e os parlamentares se manifestaram contra.
CC: O PLP 227, que legaliza latifúndios e assentamentos dentro das terras indígenas, foi anunciado no mesmo dia da reunião com a Dilma. Como o movimento indígena recebeu essa notícia?
SG:. No momento em que estávamos conversando para tentar um diálogo com o governo anunciam o projeto de lei 227. A gente se sentiu totalmente traído, porque foi articulado entre o Executivo e o Legislativo. No momento em que ela falava que era contrária a PEC 215 já estava dada a carta branca para negociar o PLP 227. É um jogo muito articulado entre os poderes para avançarem com seus interesses. O PLP 227 é muito mais perigoso que a PEC 215 porque diz que tudo que é de interesse relevante da União e que pode ser instalado sem direito à consulta. O que eles entendem como relevante interesse é o interesse privado, os empresários explorando as terras indígenas. E como é complementar está mais fácil ainda, porque não precisa ser discutido, vai para a plenária direto para votar, e o voto é fechado. Já foi criada uma Comissão Especial para dar o parecer do 227.
CC: E o PL da Mineração?
SG: Ele é extremamente perigoso, pois é para atender os interesses dos grandes empresários da mineração que querem explorar em terras indígenas. Eles vão dizer “as comunidades vão se beneficiar”, mas não vão. Não podemos pensar dessa forma e receber compensações. A gente não tem que negociar o direito do usufruto exclusivo dos povos indígenas, que a Constituição garante. Assim, a terra deixa de ser um bem do povo indígena e passa a ser do interesse privado.
CC: E o “decreto da repressão”? Por que foi apelidado com esse nome pelo movimento indígena?
SG: O Decreto 7.957, instituído este ano, é uma medida autoritária porque regulamenta a atuação das Forças Armadas na proteção ambiental. Foi criado para garantir que sejam feitos os estudos de licenciamento ambiental dos grandes empreendimentos e impedir que os indígenas façam manifestações contrárias a esses estudos. Ou seja, se utiliza a Força Nacional para proteger a realização dos estudos, mas, na verdade, ela deveria fazer a proteção do território para os índios viverem de forma mais tranquila.
CC: Como o movimento indígena está enfrentando essas ofensivas?
SG: As ofensivas vêm tanto do Legislativo como do Executivo. E do Judiciário também, porque há uma morosidade muito grande em resolver os casos sobre a questão da terra. Na verdade, os três poderes estão contra os direitos indígenas, essa é a nossa avaliação. Os ataques aos direitos indígenas são para atender o modelo desenvolvimentista do país e os interesses pessoais do agronegócio. O Executivo tem seus projetos desenvolvimentistas e o Congresso, os seus parlamentares ruralistas. No ano passado, a gente focou a luta contra a Portaria 303. Foram várias manifestações em todo o país. O movimento indígena teve uma presença quase permanente em Brasília. Conseguimos que os ministros anunciassem a sua suspensão temporária. Em junho, fizemos um “tuitaço” e o PLP 227 foi o assunto mais comentado do mundo nas redes sociais. Ele estava para ser votado naquele dia em requerimento de urgência e conseguimos impedir.
CC: Como será a mobilização na próxima semana?
SG: O movimento indígena se organizou para estar em Brasília durante toda a semana. Conseguimos a adesão de várias entidades e movimentos sociais. Cerca de mil lideranças estarão em Brasília para refletir e discutir os 25 anos de Constituição. Como se deu essa luta? O que a gente conquistou? O que podemos fazer para não perder os nossos direitos? Temos audiências marcadas no Congresso Nacional, com os ministros, e no Judiciário. Essas leis e medidas anti-indígenas despertaram no movimento a vontade de ir para as ruas de novo. Os povos estão se juntando e acreditando que podem travar todas essas medidas postas pelos três poderes. O movimento indígena nacional se fortaleceu. Como dizem nossos parentes, o momento é de guerra. A gente tem que ir para cima mesmo, não tem mais como você ficar assistindo ou reclamando. Eles estão vindo com muita força. É hora de ir para cima, para o embate.
*Maria Emília Coelho é jornalista e Coordenadora de Comunicação do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)


Fonte:  Carta Capital

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Reintegração de Posse Parque Amazonas...




Foi com grande surpresa e medo de ser preso que o Líder dos ocupantes do Parque Amazonas, Itamar Rodrigues recebeu o documento de Reintegração de Posse das mãos do Oficial de Justiça Federal. Os ocupantes já se preparavam para mais um dia de "trabalho" no local (antiga Casa de Saúde Indígena), quando a Justiça Federal através do senhor Oficial de Justiça entregou o Mandado de Intimação e a Reintegração de Posse da Área pertencente a União. 
A desocupação se deu de forma pacífica, pois os integrantes do movimento já estavam preparados para o final infeliz, como disse o próprio Itamar em seu discurso após a derrota na justiça. - Não queremos violência e encontraremos outro lugar para que possamos nos acomodar, como já tínhamos combinado, se aparecesse um documento nós sairíamos. 

A ocupação iniciou-se no dia catorze (14) de setembro, mas por conta da celeridade da Justiça Federal, AGU, UFMA e FUNAI a invasão não foi adiante, e os ocupantes tiveram que sair segunda-feira, dia vinte e três (23) de setembro. 


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ministro: retirada de terra Awá terá PF, Ibama e Exército



BRASÍLIA — O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a desintrusão — retirada dos não indígenas da Terra Awá, no Maranhão — será executada neste segundo semestre, e que o governo irá com tudo: “Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Ibama, Funai e apoio logístico das Forças Armadas”. Ele admitiu que será difícil. “Sabemos que haverá resistência, mas lá não há ocupantes de boa fé”. Cardozo garantiu que “a lei será cumprida” e informou que “o Plano Operacional já foi apresentado ao Judiciário”.

Para se concluir que não há ocupantes de “boa fé” — seja grileiros, seja posseiros — foi feito todo um processo de averiguação. Apesar disso, o ministro destacou que haverá dois tipos de tratamento:
— Os posseiros serão incluídos em programas do Incra de reforma agrária. No diálogo com os posseiros atuarão a Funai e a Secretaria Geral da Presidência. Nós sabemos que, como em outros casos, os pobres serão usados pelos grileiros e madeireiros.
Cardozo explicou que essa ação de “desintrusão” vem sendo estudada há algum tempo, mas que era preciso passar a Copa das Confederações e a visita do Papa, que mobilizaram muitos efetivos.
— Agora, as forças estarão concentradas na Operação Awá. Não posso dar detalhes porque eles são sigilosos.
A área da Terra Awá, confirmou o ministro, já foi demarcada e homologada e a ação de desocupação não havia sido realizada antes porque surgiram várias ações na Justiça, e o governo teve que aguardar a decisão.
— Houve a judicialização, mas agora todas as ações foram julgadas e o assunto já transitou em julgado, por isso é a hora da fase da desintrusão. Mas esse é um conjunto complexo de ações que exige a presença da Força Policial.
O ministro disse que o governo aprendeu com a operação de desintrusão da terra Marawatsede no Mato Grosso, onde foram mobilizados 600 homens.
— Foi difícil, porque havia gente armada, preparada para resistir, mas a ação foi bem sucedida. Nós sabíamos que precisávamos primeiro concluir Marawtsede para em seguida ir para a operação Awá.
A hora, segundo o ministro, é agora, ao longo deste segundo semestre. Nada vai ser fácil. A chegada do Exército lá em junho foi em outra operação, mas deu uma noção da força do crime. Sebastião Salgado, que acompanhou parte da ação, conta que o Exército encontrou um volume considerável de madeira dentro da floresta:
— Por causa da ação do Ibama, eles usam a própria floresta como local de estocagem da madeira derrubada. Eles calculam que deve ter 40 mil toras de madeira cortadas dentro da mata, o que dá 120 mil m³ de madeira cortada dentro da mata. É praticamente impossível o Exército retirar. Por isso os militares decidiram cortar com motosserra até ficar aqueles toquinhos sem uso comercial.
O fotógrafo acha que só desta forma, com todas as forças do Estado brasileiro, é possível proteger a mata:
— É preciso entender que se fala terra indígena, mas pela lei brasileira a terra é da União. Portanto, proteger esses índios, expulsar os madeireiros e defender essa mata é do interesse dos brasileiros.
Já a a ONG Survival, que trabalha pela preservação do território dos Awá, declarou por e-mail que “a operação chega em um momento crítico”. Citou que nos últimos anos “foram fechadas oito madeireiras, mas há ainda um número considerável de serrarias que funcionam na região”. Lembrou, por fim, que “até agora a operação não entrou na terra indígena onde ainda ocorre o desmatamento ilegal em um ritmo alucinante”.
“O risco ainda é maior para a população de índios isolados que vivem na área e que são extremamente vulneráveis às doenças trazidas pelo contato com os não-índios”, completou.

Governo federal planeja “desintrusão” da Terra Indígena Awá, no Maranhão






Sobreviver com coragem
  1. Considerados um dos últimos povos caçadores e coletores do planeta, os poucos mais de 400 Awá que povoam o que restou da Floresta Amazônica no Maranhão vivem o momento mais decisivo de sua sobrevivência: impedir que grileiros, posseiros e madeireiros destruam o seu mais valioso bem. É das árvores e da mata densa situadas na Reserva Biológica do Gurupi, de onde tiram o seu alimento, a sua certeza de amanhã poderem garantir a continuação de seu povo, de sua gente. Eles não querem nada mais do que a garantia do governo federal de que não terão o seu território devastado pela ganância do homem branco, que avança a passos largos em busca de madeira nobre. 

    Apesar de sua terra já estar demarcada, homologada e registrada com 116.582 hectares pela União, eles enfrentam uma ameaça real de assistir à destruição da floresta da qual são tão dependentes e de onde tiram o sustento de seus filhos. Ainda que a Justiça já tenha determinada a retirada desses 'intrusos' ou não índios, como define a Funai, os Awá temem pela própria sorte, se afirmam em sua coragem e não vacilam quando veem sua resistência em xeque. "Não temos medo. Vamos resistir", dizem em discursos emocionados.

    A repórter Míriam Leitão, a convite do renomado fotógrafo Sebastião Salgado, viajou até a Aldeia Juriti e pôde comprovar como os Awá vivem essa dramática expectativa. Neste ambiente especial, que complementa a série de reportagens publicadas na edição dominical de O GLOBO, o leitor poderá saber mais do cotidiano dos chamados 'índios invisíveis', como vivem, e como reverenciam a sua sagrada cultura.


    Assista o Vídeo. http://oglobo.globo.com/infograficos/paraiso-sitiado/

quarta-feira, 31 de julho de 2013

OPERAÇÃO HILEIA PÁTRIA...


Prosseguem na região de Buriticupu e municípios próximos as atividades da FUNAI, do Exército e do IBAMA na operação Hiléia Pátria. O Comando Militar do Nordeste está participando da Operação com 700 homens, 92 viaturas, 02 carros de combate blindados, 02 helicópteros, além do estabelecimento de um Hospital de Campanha. A operação não tem prazo para ser finalizada. 

O objetivo é o combate à exploração de madeira na região. O Exército Brasileiro está dando apoio a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em ações de repressão a crimes ambientais e na redução do desmatamento ilegal dentro das Terras Indígenas (TI's), abrangendo os diversos municípios Maranhenses. 

Os Órgãos desde do dia 20 de junho  atuam nas TI's do ALTO TURIAÇU, AWÁ e CARÚ. Nesta segunda fase da Operação, estarão presentes na Reserva Biológica do GURUPI e diversas regiões do município de Buriticupu e adjacências. 

Durante a Operação Hileia Pátria,o Hospital Militar de Área de Recife desdobrou um hospital de campanha para atender aos militares e realizar ação social nas comunidades dessas regiões. oferecendo à população atendimento médico e odontológico, além das ações cívico sociais em escolas, postos de saúde e comunidades carentes em coordenação com as diversas Secretarias Municipais nas localidades em que haja atuação do Exército.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Operação combate desmatamento ilegal em Buriticupu.

 Exército Brasileiro lançou uma operação para parar o desmatamento ilegal (Foto: Divulgação/Exército)

A Operação Hiléia Pátria, que agora está com base em Buriticupu, no Maranhão, já expediu mais de um milhão em multas e apreendeu madeira de serrarias dentro da cidade. O quartel general da operação esta sendo montado no IFMA, Instituto federal do Maranhão. 700 homens do exército, 24 do IBAMA, 10 do Intituto Chico Mendes, além de representantes da FUNAI e Batalhão Ambiental, devem ficar na região por tempo indeterminado.

Essa é a segunda etapa da operação Hiléia Pátria. A primeira foi realiza no fim de julho na região de Zé Doca e teve como alvo o combate aos crimes ambientais dentro das terras indígenas Alto Turiaçu, Awa Guajá Caru.

Agora, a operação se concentra na Reserva Biológica do Gurupi e municípios no entorno, áreas criticas de ocorrências de desmatamentos ilegais. As atividades do exército envolvem ações de logística, comunicação, inteligência e segurança das instituições e das equipes do IBAMA.


92 viaturas, dois tanques blindados, dois helicópteros além de um hospital de campanha fazem parte da estrutura montada no colégio. Nas primeiras horas da Operação Hiléia, 18 serrarias foram fechadas. Elas são suspeitas de receptação de madeira ilegal.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ossos de indígenas encontrados no Tocantins revelam ritual pós-morte

A antropóloga física Eugênia Cunha dando consultoria sobre análise de ossos (Foto: Vivianni Asevedo/Ascom NUTA)
A antropóloga física Eugênia Cunha dando consultoria sobre análise de ossos
(Foto: Vivianni Asevedo/Ascom NUTA)


O Núcleo Tocantinense de Arqueologia (NUTA) da Fundação Universidade do Tocantins (Unitins) está analisando oito restos de esqueletos encontrados na Ilha dos Campos, em 2002, próxima ao Rio Tocantins, entre os municípios de Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA). Os restos, que, provavelmente, são de indígenas Guaranis, estavam dentro de urnas – com formato oval e feitas de cerâmicas - salvaguardadas no Sítio Abrigo Santa Helena, uma espécie de caverna formada por paredões rochosos, lugar que foi submerso depois da construção da Usina Hidrelétrica de Estreito.

A antropóloga física Drª Eugênia Cunha, professora catedrática presidente da Sociedade Europeia de Antropologia Forense e coordenadora do Mestrado em Evolução e Biologia Humana da Faculdade de Coimbra, Portugal esteve em Palmas no mês de junho para ajudar na análise dos esqueletos. Segundo ela, as formas como os corpos foram guardados revelam um ritual pós-morte bastante peculiar. Os enterramentos eram chamados de secundários. Os indígenas, primeiramente faziam o enterro superficial. Depois que a carne havia se decomposto, eles tiravam os ossos, lavavam e depois os colocavam em urnas. “Um prova de que o povo se preocupava com a morte e com seus familiares”, segundo a antropóloga.

Foram encontradas quatro urnas, em uma delas tinham três esqueletos – um bebê de seis meses, o outro de três anos e o terceiro de sete anos. Segundo a antropóloga física, o fato de ter três restos guardados em uma só urna pode significar o grau de parentesco entre os mortos. Junto a um dos esqueletos foi encontrado um objeto, chamado de tembetá, adorno utilizado nos rituais de passagem, para perfurar o queixo do indígena, que ao fazer 13 anos, passava da infância para a fase adulta, quando ele já poderia constituir família.

A etnia Guarani não é originária do Tocantins. Mas, eles são povos semi nômades. De acordo com Ivan Guarani, 43 anos, integrante do movimento indígena no estado e estudante de direito na Universidade Federal do Tocantins, este ritual foi perdido no tempo, pela inserção de outras culturas e pela falta de terra.

A lavagem dos ossos, na verdade, significa purificação, segundo Ivan. “Quando os portugueses, também chamados de Paraíbas pelos indígenas, chegaram no Brasil, eles contaminaram a terra. Quando algum indígena era enterrado, ficava contaminado, por isso era necessário que os ossos fossem lavados para que as almas ficassem limpas e fossem em paz”. Ele diz que este ritual faz parte da crença religiosa, um mandamento do Deus Nhãm Jdará.

Hoje os 46 Guaranis que vivem no município de Xambioá, norte do Tocantins, dividem a terra com os Carajás. O grupo, do qual o indígena Ivan faz parte, veio de Mato Grosso do Sul e fixou moradia no norte do estado. “Os Carajás nos acolheram e a cultura deles é muito diferente da nossa. Além disso, nós não temos área própria, razões pelas quais não praticamos mais essa forma de ritual”.

A forma como os indígenas – Guaranis e Carajás, mais especificamente -  enterram os mortos, nos dias de hoje, é bem parecida com a praticada pelos brancos, segundo Ivan. O ritual foi mudando com o tempo. “Quando eu era criança lembro que o índio Guarani era enterrado numa esteira feita de madeira”.

Agora resta saber de qual época pertenciam os povos que praticavam o ritual de purificação dos corpos. De acordo com a professora e coordenadora do NUTA, Antônia Custódia, os exames de DNA, que serão feitos posteriormente revelarão a época em que estes povos viveram.


NUTA

O trabalho feito pelo NUTA tem o objetivo de resgatar histórias e fazer um monitoramento histórico e cultural das regiões impactadas. No local, onde hoje só se vê água da Usina Hidrelétrica de Estreito foram identificados, antes da construção da usina, 100 sítios arqueológicos. Além dos corpos, foram catalogadas cerca de três mil peças artesanais. Os resultados das análises dos achados serão entregues ao Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.


Fonte: G1

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Antropóloga Marta Azevedo deixa presidência da Funai




            Nota à Imprensa - Presidenta da Funai deixa o cargo por razões de saúde
Informamos que, por razões de saúde, a presidenta da Funai, Marta Maria do Amaral Azevedo, entregou seu pedido de exoneração ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Esta decisão foi tomada por ela em virtude da necessidade de realizar tratamento médico que é incompatível com a agenda de presidenta.

A Funai informa ainda que a diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável (DPDS) da Funai, Maria Augusta Assirati, assumirá o cargo interinamente. Ressaltamos que Maria Augusta ingressou na Funai a convite  da presidenta e tem conduzido a DPDS com extrema competência e comprometimento com a missão deste órgão. Maria Augusta e os demais diretores darão continuidade à missão da instituição na promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas, com o compromisso de fortalecimento da Funai, mantendo o amplo diálogo com os povos indígenas, servidores e demais setores do governo.

Fundação Nacional do Índio - FUNAI
Brasília, 07 de junho de 2013

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A nova "guerra justa" aos índios

Quando os donos do poder mobilizam as forças armadas para atacar os mais vulneráveis, uma situação de terrorismo de Estado está em curso. É o que acontece hoje no Brasil
A crise da questão indígena nas últimas semanas ganhou ares dramáticos. Conflitos antigos estão pipocando por todas as partes do Brasil, do Sul à Amazônia. Seja onde se constrói Belo Monte, seja na futura usina São Luiz do Tapajós, seja em fazendas no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, no Paraná, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, no Pará, na Bahia, ou madeireiros em Rondônia e no sul do Amazonas.
De repente todo o campo ganhou ares de fronteira, de velho oeste.
Protestos de indígenas são seguidos por pistolagem, e a polícia agindo para "dispersar" convulsões sociais - agora os ruralistas também estão pedindo o exército.
E as tristes mortes de Oziel Terena e Adenilson Kirixi Munduruku, com pífia resposta das autoridades que produziram essas mortes, a Polícia Federal, são apenas a parte mais exposta e visível desse grave problema que o governo tem mostrado não apenas incapacidade de resolver, mas uma capacidade de insuflar ainda mais, como tem sido as declarações dos ministros Gleisi Hoffman (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), atacando a Funai e defendendo a PF, e o silêncio público da presidenta Dilma Rousseff.
Uma das razões pelas quais os conflitos se agravaram não é porque eles não existiam, mas porque agora os indígenas, e os aliados dos povos indígenas, decidiram responder e se manifestar. Contra eles, capitaneados pela bancada ruralista no Congresso e no governo federal, a violência explodiu. Tanto no campo, com mortes e repressão física, quanto na imprensa, com ataques racistas pela mídia e a inversão da lógica de quem é vítima.
As vítimas se tornam os agressores. "Índios invadem fazendas", aparece no noticiário. Mas não são as fazendas que invadiram estes mesmos territórios indígenas em conflitos?
No caso da Terra Indígena Buriti, onde ocorreu o conflito entre fazendeiros e Polícia Federal contra os indígenas, a resposta é clara, e está judicializada em dois tipos de ação.
Em uma das ações na Justiça, os fazendeiros, entre eles do ex-deputado estadual do PSDB Ricardo Bacha (que se considera "ambulante" na sua ficha), discute a portaria declaratória. Nela, o desembargador Luiz Stefanini, que votou contra os índios, teve suspeição alegada pela Funai, e negada pelo próprio tribunal.
A razão é que sua mulher é credora da Funai em outro conflito com indígenas Terena no estado, e seu sogro era uma liderança da associação de classe dos fazendeiros, a Famasul.
A suspeição foi negada com a alegação de que "ainda que o falecido sogro do excepto tenha sido filiado à aludida federação, nem por isso seria caso de acolher-se a exceção, simplesmente porque da premissa estabelecida pela excipiente não resulta a conclusão exposta" (sic), e que a Funai é que deve a esposa do desembargador, logo: "Ora, qual seria o interesse do juiz em julgar a causa em detrimento de sua devedora? Absolutamente nenhum!", decidiu o desembargador Nelton dos Santos.
Agressão desmedida da PF
A outra ação decorrente desse mesmo conflito é a reintegração de posse que visa a tirar os indígenas das áreas reocupadas dentro do limite declarado com base no argumento de que a decisão do Tribunal Federal diz que não é terra indígena e que por isso os indígenas não podem ficar lá. Acontece que, no momento que a decisão liminar que determinou a expulsão dos índios foi expedida, ocasionando a morte de Oziel, o que prevalecia era a área declarada pelo Ministro da Justiça em 2009 como TI Buriti, com 17200 hectares. A agressão desmedida da Polícia Federal apenas reforça o argumento de que as vítimas desse processo de expropriação, os índios, se tornaram vítimas da justiça e do governo. E os agressores viram falsas vítimas, passando a controlar o acesso as instituições em seu benefício.
No caso das demarcações, governo tem agido em movimentos coordenados pela elite rural anti-indígena, como foi a ida da ministra Gleisi Hoffmann ao Congresso. Nos últimos dias, os piores momentos da ditadura estão sendo lembrados, tanto por declarações do governo, capitaneadas pela ministra da Casa Civil - que vê a Embrapa, especializada em pesquisa agropecuária, como o órgão mais apto a pesquisas antropológicas – quanto por cartas de intelectuais e movimentos sociais denunciando essa violência.
Exemplo dessas manifestações é uma carta, assinada entre outros pelo jurista Dalmo Dallari, endereçada à presidenta Dilma Rousseff sobre a “desqualificação da Funai”:
"A decisão da Casa Civil da Presidência da República apresentada aos representantes do agronegócio e parlamentares do Mato Grosso do Sul, em reunião na semana passada em Brasília, de que a Embrapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Agrário, “avaliarão e darão contribuições” aos estudos antropológicos realizados pela FUNAI, repete a ação do último governo militar ao instituir o famigerado “grupão” do MIRAD, capitaneado pelo general Venturini, para “disciplinar” a FUNAI e “avaliar” as demandas indígenas.
Quando os donos do poder mobilizam as forças armadas para atacar os mais vulneráveis, uma situação de terrorismo de Estado está em curso. É o que acontece hoje no Brasil com relação aos índios.
Utilizar as forças de repressão para atacar indígenas foi medida utilizada no passado, durante a ditadura, contra os ava-canoeiro, em Goiás, os waimiri-atroari, no Amazonas, os panara, no Mato Grosso, ou mesmo os kaingang, em São Paulo, logo antes do surgimento do Serviço de Proteção aos Índios, em 1910. Alguns desses crimes apareceram no relatório Figueiredo, que ficou desaparecido por 45 anos. Mas o relatório é anterior aos piores tempos da ditadura. E precisaria ser escrito um novo relatório sobre o que está acontecendo, hoje, em diferentes os cantos do país.
Se os ruralistas dão entrevistas, escrevem artigos, e aparecem por todos os lados sempre disponíveis, os índios ainda não têm chance de se expressar. A eles têm restado as redes sociais, pelas quais podem manifestar suas indignações. Expor, por exemplo, a crueldade de uma jornalista da TV Globo que invadiu um funeral para entregar uma intimação judicial a índios terenas durante o enterro de Oziel Terena. O que mais tem circulado nas redes sociais são manifestos que não encontram eco na mesma mídia que ataca os índios - mas que encontra meios de se fazer circular e provocar o debate.
As críticas se dirigem aos ruralistas, e junto deles, Gleisi e Dilma: "Como essa senhora consegue dormir sabendo que a parte mais desprotegida do povo brasileiro, os povos indígenas, está sendo assassinada a bala pela Polícia Federal em suas aldeias, as crianças indígenas são assassinadas por jagunços do agronegócio em suas terras invadidas por supostos fazendeiros?" perguntou no facebook o indigenista da Funai, Cláudio Romero, que trabalha há quase quatro décadas na fundação.
Kátia Abreu e Dilma
Durante o julgamento do caso da Raposa Serra do Sol, havia sido exposto que o juiz Carlos Alberto Menezes Direito poderia ter servido ao lobby de fazendeiros do sul do país para decidir contrariamente aos indígenas em Roraima. Para garantir a demarcação no Norte, Direito tentou legislar para impedir que os direitos de outros fossem garantidos. Tentou escolher na cara de quem a porta da Justiça iria se fechar.
Passou a soar uníssono entre ruralistas, governo e imprensa que as "regras não são claras" na Funai, como se todos fossem comentaristas de futebol tentando encontrar uma "a regra é clara".
Alegavam que a Funai não conseguia fazer uma "intermediação" com fazendeiros, e mais uma série de argumentos retóricos reproduzindo uma falsa vitimização da casa grande, cada vez mais poderosa com o avanço tecnológico na agricultura e a sede por commodities da China, e criminalizando quem está no pelourinho.
A desconstrução dos direitos indígenas segue a destruição dos direitos do meio ambiente, com o fim do Código Florestal e a sua substituição por um "novo" codex, a regular menos as florestas e mais as lavouras produtoras decommodities em grande escala.
O governo, em alguns momentos, tenta se colocar como "refém" dos poderosos ruralistas. Esse segmento, que construiu uma aliança com a bancada evangélica, saiu da "oposição" e veio para a "base aliada", sobretudo durante a campanha de Dilma.
E para ter uma chamada "governabilidade", o governo se aliou a esses setores. Até "ideologicamente", como tem repetido a senadora Kátia Abreu ao dizer que suas idéias são as mesmas de Dilma.
Essa aliança, além de tragédia no campo, tem também acirrado disputas internas no governo, entre esta ala reacionária e os setores mais progressistas, como os que defendem os indígenas e quilombolas, na Funai e INCRA, e o meio ambiente no Ibama.
Quando Dilma convocou uma reunião para decidir o futuro dos índios em meio à atual crise, não convidou representantes dos povos indígenas, e nem mesmo a Funai.
Dilma teria declarado querer que o índio tenha "autonomia econômica", algo que ressoa declarações da época da ditadura, como quando os militares tentaram impor aos xavantes o cultivo de arroz, que se revelou um desastre, econômico e social, ou impôs aos kayapo a extração predatória de madeira. Nas declarações que sucederam a reunião, não se falou de algo mais fundamental: a garantia dos direitos dos povos indígenas. Nem sequer apareceu termos como "etnodesenvolvimento" nas falas.
Esse movimento anti-indígena cada vez mais ganha áreas de uma "guerra justa".
Os índios são selvagenizados, desculturalizados, desterritorializados, desumanizados. Devem abrir caminho para a soja, a cana, o boi, e a energia hidrelétrica, sem opor resistência.
Caso contrário, toda violência contra eles é justificada e respaldada pelo Estado. Contra o índio, é tolerado partir para cima. Como nas "guerras justas" nos tempos a colonização utilizadas como justificativa para a escravização dos índios – escravização que ainda é o provável destino dos índios nas lavouras de cana no Mato Grosso do Sul, como acontecia no Brasil colônia.

 Fonte: Felipe Milanez — publicado 05/06/2013 
Carta Capital
Foto: Site Olhar Direto