Um índio foi baleado na tarde desta terça-feira (4) na região de fazendas
ocupadas por um grupo de terenas em Sidrolândia, a 70 quilômetros de Campo
Grande (MS). O índio da etnia Terena Josiel Gabriel Alves, de 34 anos, deu
entrada no Hospital Sociedade Beneficente Dona Elmiria Silverio Barbosa às
16h30min.
Exames
indicaram que a bala ficou alojada próximo à coluna cervical, o que determinou
sua transferência para a Santa Casa de Campo Grande. Mara Gonçalves,
funcionária da Sociedade Beneficente, disse à Agência Brasil que o
índio saiu do hospital consciente, estável e conversando, mas não descartou a
possibilidade de sequelas no sistema motor. A Santa Casa de Campo Grande
confirmou que Alves deu entrada consciente, mas não se pronunciaria sobre o seu
estado de saúde.
Sidrolândia
tem sido alvo de conflitos entre fazendeiros e índios desde o dia 15 de maio
quando os terena
ocuparam quatro fazendas na região. Uma delas, a Fazenda Buriti, foi o local
onde o índio terena Osiel
Gabriel, de 35 anos, foi morto e
mais três índios ficaram feridos durante uma ação de reintegração de posse,
comandada pela Polícia Federal, no último dia 30.
Em nota
divulgada na noite de sexta-feira (31), a Funai
criticou o cumprimento da ordem de desocupação da fazenda Buriti e disse que não foi
informada sobre a operação.
"O governo colabora com todos os estados. Não nos furtaremos no caso de Mato Grosso do Sul", disse Cardozo, em entrevista coletiva concedida há pouco. |
O
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pediu rigor na apuração do caso e disse hoje que vai conversar com o
governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli sobre a necessidade do uso da Força Nacional
de Segurança em Sidrolândia. Hoje, Cardozo decidiu que vai atender ao pedido de
Puccinelli e enviar a Força
Nacional de Segurança ao estado.
Na coletiva, o ministro destacou o protagonismo da
Fundação Nacional do Índio (Funai) no processo de demarcação de terras
indígenas. Segundo Cardozo, o Ministério da Justiça vai editar uma portaria
para aprimorar o processo. Na nova norma, serão pedidas mais informações para
que as terras sejam demarcadas, explicou. "Por meio de portaria, vamos
pedir mais informações para que a própria Funai e as partes possam avaliar
melhor as situações e para que o próprio ministro da Justiça, que hoje já é a
autoridade competente para baixar a portaria de demarcação, possa
avaliar."
Segundo a assessoria do Ministério da Justiça, a
nova portaria deve sair até o final deste mês.
Ontem
(3), cerca de 200 índios e trabalhadores rurais sem terra iniciaram uma marcha em direção a Campo Grande (MS).
Organizado por organizações sociais, o movimento cobra a demarcação de terras
indígenas e quilombolas e reforma agrária.
Procuradores
da República em Mato Grosso do Sul e no Pará se manifestaram hoje sobre os
conflitos decorrentes da disputa
por terras entre índios e produtores rurais. Por meio de notas divulgadas nos sites das procuradorias nos dois
estados, eles dizem que a questão da demarcação de terras indígenas é um
problema cuja solução depende, principalmente, de vontade política.
A
Advocacia-Geral da União (AGU) irá recorrer da decisão judicial que determinou
reintegração de posse na Fazenda Buriti, em
Mato Grosso do Sul, no prazo de 48 horas. O prazo vence amanhã (5). O objetivo
é conseguir mais tempo para negociar a retirada dos indígenas que ocuparam o
local. A União também vai pedir a reconsideração de multas pelo não cumprimento
da decisão.
Segundo
a Funai, a disputa por terras, causa dos confrontos entre índios e fazendeiros,
se arrasta desde, pelo menos, 1928, quando o antigo Serviço de Proteção ao
Índio (SPI, órgão substituído pela Funai em 1967), criou uma reserva terena com
2.090 hectares (um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente
a um campo de futebol oficial).
Em
2011, a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu como território
tradicional indígena os 17 mil hectares reivindicados pelos índios. Fazendeiros
que ocupam a área, em alguns casos há décadas e regularizados, conseguiram que
a Justiça Federal em Campo Grande anulasse os processos de reconhecimento e
homologação.
Fonte: Luciano Nascimento - Agência Brasil
Edição: Fábio Massalli
Infográfico: G1
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