quinta-feira, 5 de abril de 2012

AWÁ-GUAJÁ, povos nômades.
















                                                                                                                                  Os Guajá se autodenominam Awá, termo que significa "homem", "pessoa", ou "gente". As origens deste povo são obscuras, porém acredita-se que seja originário do baixo rio Tocantins no estado do Pará. Formava, provavelmente junto aos Ka’apor, Tembé e Guajajara (Tenetehara), um conjunto maior, da família lingüística Tupi-Guarani naquela região (Gomes 1988, 1989 & 1991; Balée 1994). Na medida que a expansão colonial foi exercendo uma pressão sobre estes grupos indígenas, houve uma dispersão dos mesmos. Acredita-se que a partir do conflito da Cabanagem, em torno de 1835-1840, este conjunto iniciou uma migração no sentido leste, rumo ao Maranhão. É provável que por volta de 1950 todos os Guajá já estivessem vivendo neste estado, no lado leste do rio Gurupi (Gomes 1989 & 1991).




Localização

Os Guajá em contato permanente vivem no noroeste do estado do Maranhão, nas Terras Indígenas   Alto Turiaçu (530.520 ha) e Caru (172.667 ha), ambas já demarcadas e homologadas. Desde 1982 há uma tentativa de estabelecer uma nova área para os Guajá, a TI Awá. A criação desta reserva ligaria a TI Caru à TI Alto Turiaçu, estabelecendo assim um terreno contínuo, em tese menos sujeito às invasões. Além de fornecer mais segurança, esta fusão proporcionaria aos Guajá uma maior área para continuar as suas atividades de subsistência. Serviria ainda como um território próprio, dado que a TI Caru e a TI Alto Turiaçu são compartilhadas com as etnias Ka´apor, Timbira e Guajajara. Acredita-  se que alguns grupos Guajá, sem contato, residam nesta área, sendo que sua demarcação estenderia uma proteção maior aos mesmos. Certos trechos da área em questão já se encontram degradadas, além de existirem estradas cortando o terreno. Porém, é de suma importância a demarcação e homologação desta reserva a fim de garantir um futuro mais seguro para os Guajá. O último documento do Ministério da Justiça que trata da demarcação da TI Awá, publicado no Diário Oficial da União de 29 de julho de 1992, estabelece uma área de 118.000 hectares. Todavia, até hoje não foi realizada, dada a pressão dos grandes interesses político-econômicos da região.



Na TI Araribóia, ao sul das TI Alto Turiaçu e Caru, foram avistados outros grupos Guajá pelos Guajajara. Acredita-se, também, que existam outros Guajá dentro da Reserva Biológica Gurupi, adjacente a TI Caru, a oeste. Dentro das próprias TI Alto Turiaçu e TI Caru foram observados mais grupos arredios e acampamentos abandonados, informações estas provindas dos Ka´apor e dos Guajá contatados. Ainda há informações de grupos mais distantes que se movem por uma série de serras e chapadas que ligam os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí, Goiás, Bahia e Minas Gerais. Este eixo, inclusive, tem servido como um refúgio natural para os Guajá e já conduziu alguns indivíduos até Bahia e Minas Gerais. O deslocamento por todas estas extensões demonstra a capacidade dos Guajá de se adaptarem em vários ecossistemas diferentes.


Situação atual


O contato interétnico exige uma sensibilização maior para com a cultura indígena, principalmente no tocante a sua visão de doença, saúde, morte e cura. Seus interlocutores teriam que assumir uma responsabilidade maior no sentido de conhecer a língua Guajá para efeitos de compreender melhor estes conceitos e ministrar sua saúde com mais competência. Paralelamente, deveriam encorajar mais pesquisas básicas que proporcionariam mais informações tanto na área de saúde como em outros aspectos da vida Guajá. E ao cuidar da saúde Guajá deveria-se tratar as pessoas convalescentes com mais respeito. Caso contrário, as doenças introduzidas continuarão a assolar os Guajá, uma vez que a saúde implica na habilidade destes indígenas de praticar suas atividades de subsistência, ou seja, na caça, coleta e roça; o desempenho destas exige um esforço físico constante.

Outro problema que implica na segurança dos Guajá é a constante presença de invasores em suas áreas. O desmatamento dentro das Áreas Indígenas Alto Turiaçu e Caru, além da presença de caçadores ilegais, tem reduzido a disponibilidade de terra e caça. Exemplo disso é na Aldeia Juriti, que conta com o apoio de servidores da Funai e Funasa, Patriolino, Dalva, Riba e Antonio. Outro fator importante que afastou a caça dos Guajá é a ferrovia Carajás que corre na margem sul da TI Caru. A ferrovia atraiu um grande número de migrantes, que criaram várias povoações ao longo do seu percurso, e estimulou assim invasões nas áreas indígenas adjacentes. Além disso, o barulho emitido pelos trens da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a empresa administradora do Projeto Grande Carajás (PGC), é ouvido a longa distância, afastando os animais de caça. O PGC, ao longo de sua ferrovia, afeta, direta e indiretamente, nada menos que 40 comunidades indígenas (Treece 1987).




Na virada do milênio, os Guajá estão sujeitos a um futuro incerto, já que o cerco se fecha cada vez mais. Recentemente, os Guajá foram tirados da categoria de "índio isolado" e, atualmente, encontram-se na situação mais comum do indígena brasileiro. Ou seja, são considerados índios "recente contato" .

Nota sobre as fontes. As informações mais antigas sobre os Guajá, indiretas e anteriores ao contato, foram resumidas pelo etnólogo Curt Nimuendaju num texto publicado no 3º volume do Handbook of South American Indians em 1949. Uma vez contatados, esteve entre eles o etnólogo Mércio Pereira Gomes, obtendo dados que estão divulgados no seu livro Os Índios e o Brasil (1988), num artigo incluído no volume Povos Indígenas no Brasil (1987/1990), do antigo CEDI (hoje incorporado ao Instituto Socioambiental), e num texto mimeografado. O etnólogo Louis Carlos Forline, autor deste verbete, realizou várias etapas de pesquisa de campo junto aos Guajá, entre 1991 e 1994, num total de aproximadamente dezoito meses. De sua pesquisa resultaram sua tese de doutoramento, The Persistence and Cultural Transformation of the Guajá Indians, aprovada na Universidade da Flórida em 1997, e vários artigos sobre contato interétnico, atividade coletora, introdução da agricultura e relações de gênero.
Informações complementares podem ser encontradas na tese de doutorado e no livro Footprints in the Forest (1994) do etnólogo William Balée, que têm por tema os índios Ka’apor, vizinhos dos Guajá, e no livro de Dave Treece, Bound in Misery and Iron (1987), que versa sobre o impacto do Programa Grande Carajás sobre os indígenas.


RELIGIÃO

Na esfera religiosa dos Guajá, há uma participação complementar entre o homem e a mulher. É o que se evidencia no cerimonial de "viagem para o céu" (ohó iwa-beh). Esta cerimônia é praticada durante o período da estiagem nas noites de lua cheia. O homens se preparam para embarcar nesta viagem com a assistência de suas mulheres que os adornam com a plumagem de aves. Mais tarde, os homens dançam e cantam ao redor de uma takaia (uma variante deste termo, tocaia, foi tomada da língua geral, que era tupi, pelo português, com o significado de construção para emboscadas e outras finalidades), construída no descampado da aldeia. Entram individualmente na takaia, em cujo interior continuam cantando até se impelirem para o céu com o forte bater de seus pés. Quando os homens penetram o céu, lá se encontram com os seus antepassados e outras entidades espirituais. Eles interagem com estas entidades e efetuam um "câmbio" de espíritos para retornar a terra. Ao retornarem, os homens descem "incorporados" e dançam em direção às suas mulheres e outros familiares. Dialogam com elas através do canto e "benzem" os seus familiares com sopros. Em seguida, as suas mulheres solicitam a presença de outros espíritos e, assim, os homens voltam ao céu para trazer outras entidades. As mulheres têm uma participação ativa neste processo: embora não façam a "viagem para o céu", elas comandam o evento solicitando de seus maridos que tragam determinadas entidades para consultas e curas. O homem serve como uma espécie de veículo e elo entre o mundo dos espíritos e a terra.





Fontes de Informação:
Louis Carlos ForlineUniversidade Federal do Paráe Museu Paraense Emílio Goeldi 
forline@museu-goeldi.br / fevereiro de 1999 
blog. Funai_Itz

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